Se você acompanha o mundo da tecnologia há algum tempo, sabe que o “jardim murado” da Apple sempre foi motivo de orgulho para a empresa e de dor de cabeça para reguladores. No entanto, os portões desse castelo estão sendo abertos, um país por vez. Depois da União Europeia, chegou a vez da Terra do Sol Nascente ver uma transformação profunda no ecossistema do iPhone.
A Apple anunciou oficialmente que permitirá a existência de lojas de aplicativos alternativas e sistemas de pagamento externos no Japão. Mas não se engane: essa não foi uma decisão baseada em uma súbita vontade de ser mais generosa. A gigante de Cupertino está sendo, na verdade, “escoltada” pela legislação local para garantir que a concorrência tenha uma chance de respirar no iOS.
O que é a MSCA e por que ela mudou o jogo no Japão?
A grande responsável por essa mudança é a Mobile Software Competition Act (MSCA), uma nova lei japonesa que acaba de entrar em vigor. Pense nela como a versão nipônica do Digital Markets Act (DMA) da Europa. O objetivo central é simples: impedir que gigantes donas de sistemas operacionais (como Apple e Google) usem sua posição dominante para sufocar competidores.
Historicamente, a Apple manteve um controle férreo sobre como os aplicativos são instalados e como as transações financeiras acontecem dentro deles. Com a MSCA, o governo japonês disse um basta a essa prática. Agora, a Apple é obrigada a permitir que desenvolvedores processem pagamentos por bens e serviços digitais fora do sistema proprietário da App Store e, mais radical ainda, que instalem mercados de apps inteiros de terceiros.
Essa é uma vitória significativa para a regulação e o antitruste global, mostrando que a pressão sobre as Big Techs não é um fenômeno isolado do Ocidente, mas uma tendência mundial coordenada para reequilibrar o mercado digital.
Segurança ou estratégia de controle? O dilema da Notarização
Como já era de se esperar, a Apple não abriu os portões sem antes colocar alguns avisos de “cuidado com o cão”. No anúncio oficial, a empresa reforçou seu discurso clássico de que lojas de aplicativos alternativas e sistemas de pagamento externos abrem “novas avenidas para malware, fraudes, golpes e riscos de privacidade”.
Para mitigar esses problemas — e, convenhamos, manter um pé no controle do processo — a Apple trabalhou com os reguladores japoneses para implementar um sistema de Notarização (ou autorização). Esse processo exige que qualquer mercado de apps de terceiros passe por uma revisão da Apple. Segundo a empresa, o foco é proteger crianças de conteúdos inapropriados e evitar golpes financeiros.
O ponto curioso aqui é que, ao criar uma solução técnica para “autorizar” lojas externas sem comprometer totalmente a segurança, a Apple acaba admitindo que sempre houve uma forma de equilibrar abertura e proteção. O que faltava, aparentemente, era a motivação de uma multa multibilionária ou uma lei rigorosa.
A polêmica das taxas: O “xeque-mate” de Tim Sweeney
Se você acha que agora os desenvolvedores ficarão com 100% do lucro, pense novamente. A Apple é mestre em engenharia financeira. Assim como fez na Europa, a empresa criou uma estrutura de taxas complexa para garantir que a receita da App Store não evapore.
A Apple anunciou que cobrará uma taxa de 21% sobre compras feitas em sistemas de terceiros. Para Tim Sweeney, CEO da Epic Games e eterno rival da Apple nos tribunais, isso é um “escárnio”. Em uma publicação ácida no X (antigo Twitter), Sweeney afirmou que o Fortnite não retornará ao iOS no Japão nestas condições.
Veja abaixo uma comparação rápida de como as coisas estão se desenhando:
| Modelo de Negócio | Taxa Padrão (App Store) | Taxa em Sistemas de Terceiros (Japão) |
|---|---|---|
| Desenvolvedores Médios/Grandes | 30% | 21% |
| Pequenos Desenvolvedores | 15% | Reduzida (variável) |
| Sistemas de Pagamento | Exclusivo Apple | Livre (mas com reporte à Apple) |
Sweeney comparou a situação com o mundo dos PCs: “Você consegue imaginar o alvoroço se a Microsoft exigisse que todos os jogos da Steam ou da Epic Games Store reportassem cada transação de volta para ela através de uma API de vigilância comercial?”. Pois é exatamente isso que a Apple está implementando no Japão.
O que muda para você, usuário de iPhone?
Se você mora no Japão ou utiliza uma conta da região, as mudanças não serão instantâneas, mas serão profundas. A Apple deu aos desenvolvedores até 17 de março de 2026 para concordarem com os novos termos do Programa de Desenvolvedores. Até lá, veremos uma transição gradual.
- Mais opções de preços: Desenvolvedores podem oferecer descontos se você pagar pelo site deles, fugindo da mordida da Apple.
- Novas lojas: Imagine ter uma loja focada apenas em jogos retrô ou em aplicativos de nicho que a Apple normalmente não aprovaria.
- Curva de aprendizado: O usuário precisará ser mais cauteloso ao baixar apps fora da loja oficial, verificando a procedência e a reputação dessas novas lojas.
É um momento de “liberdade vigiada”. Para o usuário avançado, é um paraíso de possibilidades. Para o iniciante, pode ser um terreno confuso onde a segurança não é mais garantida por uma única entidade onipresente.
Concluindo…
A mudança na App Store do Japão é mais um prego no caixão do monopólio absoluto da Apple sobre o iOS. Embora a empresa tente manter o controle através de taxas de 21% e processos de notarização, o precedente está aberto. O que vemos é uma queda de braço épica entre o poder das Big Techs e a soberania das leis nacionais. No fim das contas, quem deve ganhar é o ecossistema, que se torna mais diverso, mesmo que o caminho até lá seja cheio de processos judiciais e discussões técnicas acaloradas.
E você, o que acha dessa abertura “forçada” da Apple? Acredita que a segurança do iPhone realmente corre risco ou é apenas uma desculpa para proteger o lucro? Comente abaixo e compartilhe sua opinião!
FAQ
O que muda na App Store do Japão?
A Apple agora permite lojas de aplicativos de terceiros e o uso de sistemas de pagamento externos para bens digitais, cumprindo a nova lei MSCA do país.
A segurança do iPhone vai diminuir com essas mudanças?
A Apple afirma que sim, mas implementou um processo de “Notarização” para verificar aplicativos de fora da loja oficial e tentar evitar malwares e fraudes.
Por que a Epic Games ainda está criticando a Apple?
Porque a Apple cobrará uma taxa de 21% mesmo em vendas feitas fora da sua loja, o que a Epic Games considera uma obstrução à verdadeira concorrência.
Quando essas mudanças entram em vigor no Japão?
As mudanças já estão sendo implementadas, e os desenvolvedores têm até março de 2026 para se adaptarem totalmente aos novos contratos da Apple no país.
Vale a pena usar lojas de apps de terceiros?
Depende. Pode valer a pena para acessar apps que não estão na loja oficial ou obter preços melhores, mas exige que o usuário seja mais cuidadoso com a segurança dos dados.


